EXCLUSIVO!
Enciclopédia entrevista a fotografa KICA DE CASTRO.
Uma das maiores referências nacionais em inclusão social no país.
Um pouco de bio
Por: Fernanda Piacentini 06 de maio de 2013
Apesar de amarmos a moda, não é difícil perceber que este é um nicho de mercado repleto de contradições, no qual ao mesmo tempo em que se prega originalidade, se reluta para aceitar algo “diferente” do habitual, o que poder-se-ia chamar de hipocrisia fashion? Exemplificando: Um estilista renomado, de vanguarda vai lá e prega o Não, ao uso de peles de animais, muitas vezes usando um cinto da própria, uma carteira. Deixando-nos muito confusos sobre suas convicções... Muitas vezes nos deixa a impressão que tudo vale para termos os famosos 15 minutinhos de atenção. Muito pouco é realmente sério!
Ninguém quer se comprometer muito, seria receio de se tornar chato ou cansativo? Afinal, o importante é “parecer” e não, “ser”. Pode ser!
Ode a McQueen a Jean Paul Gaultier que assumiram postura menos condicionadas desde seus respectivos inícios de carreira, e para os quais o fato de lutar por uma causa não vinha como "tendência para uma nova coleção", e sim como conceito de trabalho em si, bem fundamentado, de pensamentos que foram ganhando consistência a cada nova campanha. Como por exemplo, romper com os padrões estéticos de beleza pré-existentes, celebrar as diferenças em todos os sentidos.
Hoje, temos toda a honra de apresentar-vos a primeira parte de uma entrevista que fizemos com uma pessoa que assumiu seu papel no mundo, aquele de romper com certas amarras, aquele de dar vida nova a fotografia, aquele de transformar em TOTEM o que sempre foi e ainda é Tabu. Com o intuito de contribuir na medida do possível para a abertura no campo de “visão” no que nos compete. Devemos ter em mente que o amanhã não nos pertence, para se pensar!
KICA DE CASTRO /Entrevista e História Parte I
Por: Fernanda Piacentini
Fotógrafa, empresária e publicitária. Kica de Castro tem pós graduação em fotografia e graduação em comunicação social com ênfase em publicidade e propaganda. E talvez seja a maior representante do país no quesito inclusão social em mídia, proprietária de uma agência de modelos para pessoas com alguma deficiência. Começou fazendo fotos para eventos, logo após se viu fotografando pacientes para prontuários médicos. Aquele ambiente de trabalho, de certo modo frio e até constrangedor, se pensarmos que, para um deficiente físico não era agradável e não tinha nada de glamouroso fazer tais tipos de fotos. Mas parece que ao seu redor Kica conseguiu transformar essa realidade e as coisas começaram a mudar....Confira !
Fernanda: Kica em primeiro lugar gostaríamos de parabenizar-te pelo seu lindo trabalho e iniciativa. São pouquíssimos os profissionais que se aventuram ao lado poderia dizer “ menos glamouroso da publicidade”, onde temos menos holofotes sobre. Suas fotos são de muita sensibilidade...
Kica: Fico grata pelas palavras. Estamos na contra mão de tudo que a moda dita como padrão de beleza, mas conseguimos provar que beleza não é padronização, que existe referência do que é belo em pessoas com alguma deficiência.
Quero registrar os meus agradecimentos antecipados pela oportunidade de falar do nosso trabalho, pois acreditamos que com a informação e possível chegar na exclusão do preconceito, uma transformação necessária para a causa. O que queremos é que a sociedade veja que beleza e deficiência não são palavras opostas e os aparelhos ortopédicos podem ser considerados um acessório de moda.
Fernanda: No início de sua carreira, você prestava serviços fotográficos a festas e eventos, como ocorreu essa mudança de nicho de mercado, foi uma escolha planejada ou aconteceu por acaso?
Kica: Até hoje eu faço fotos para eventos corporativos e sociais, em demanda, casamentos. Abrir uma agência de modelos para pessoas com alguma deficiência, foi algo que aconteceu por eu estar no lugar certo e soube escutar as pessoas. Vi uma oportunidade e fiz todo um planejamento e investimento para abertura da empresa. Profissionalmente, comecei a fotografar em 2000.
Um pouco de história:
"Em setembro de 2002, fui ser chefe de um setor de fotografia em um centro de reabilitação para pessoas com alguma deficiência física. Fazia fotos, para prontuários médicos, para o corpo clinico, com uma importância bem significativa, acompanhar visivelmente o quadro clinico do paciente, em casos a melhora em outros infelizmente o avanço negativo da patologia. Essas fotos eram para o paciente, completamente invasivas na sua intimidade. Fotos nas quatro posições globais: frente, costas e as duas laterais, em peças intimas, poucos casos o nu, com uma placa que levava o número de identificação do paciente. O que eu mais escutava desses pacientes era que essas fotos pareciam com as de presidiários. Mesmo tentando brincar com o paciente: “diga X”, “ olha o passarinho”, nem pensar! Não via nenhum sorriso. Isso foi muito frustrante para o meu lado profissional, afinal de contas a fotografia mexe com a vaidade das pessoas e isso não acontecia nesse centro de reabilitação. Muitas vezes de forma tímida, eu via pacientes deixarem cair lágrimas por conta dessa situação. Cheguei a ponto de achar que não ia aguentar nem os três primeiros meses de experiência! Foi quando, numa sexta-feira, final de expediente, saindo com os amigos de trabalho para relaxar, resolvi falar com uma amiga, que é psicóloga e trabalhava no setor de psicologia adulto. Falei para ela que não aguentava ver tanta tristeza e baixa autoestima, que eu tentava quebrar o gelo, puxar assunto, mas não tinha abertura com os pacientes. Ela simplesmente falou que não tinha nenhuma diferença entre os trabalhos que eu tinha feito com modelos sem deficiência nas agências de publicidade e que eu tinha que ser eu mesma. Essa foi a luz no fim do túnel."
A Mudança...
"No dia seguinte, um belo sábado, acordei bem cedo e com R$ 150,00 fiz a festa na 25 de março, centro popular de comércio em São Paulo, onde comprei tudo que se possa imaginar: maquiagem, espelho, pente, gel, muitas bijuterias e revistas em sebo; de moda e de gênero masculino, a Playboy e a G . Na segunda feira, voltei ao trabalho como a “sacoleira”, transformei aquele setor de fotografias em um estúdio fotográfico. Quando o paciente chegava e vinha com aquele comentário de foto para presidiário, eu nem deixa ele completar a frase, eu já engatava a primeira e falava que era para uma pré-seleção de um editorial de moda, e mostrava as revistas desses assuntos para eles. Para as pessoas maiores de idade e que tinham que fazer nu, para as meninas eu mostrava a Playboy e para os meninos eu mostrava a G. Isso quebrou qualquer gelo e eu vi e ouvi muitas risadas.
Antes de pedir para que tirassem as roupas, eu dava cinco minutos de contato com a vaidade, os deixava olhar no espelho, para arrumar os cabelos, deixava maquiagens e bijuterias a disposição... Isso levantou a autoestima deles e a minha como profissional. Com isso, as pessoas de forma bem espontânea sorriam sem ao menos eu pedir. Nesse momento, os pacientes começaram a se abrir, falando dos sonhos, contando um pouco mais quem eles eram, o que faziam... Muitos pacientes quando voltavam para instituição passavam no setor só para dar um abraço, isso não tinha preço! Quando eles viram que eu tratava eles de igual para igual, muitos entraram em contato para fazer book pessoal. Um sonho que eles tinham, o de ter fotos bonitas. Por eu estar dentro da instituição e ser de fácil acesso para eles, resolvi fazer o book lá mesmo. Claro que, sem prejuízo para instituição. Lá dentro, eu tinha a disposição equipamentos analógicos, então o preço do filme e revelação era repassado ao paciente que pagava diretamente para instituição. Quando eles viram o resultado, sem manipulação de imagem, o “bendito” photoshop, eles mesmo não acreditavam que eles eram tão bonitos. Nisso a vontade de ser modelo, de seguir carreira só crescia internamente. Vendo essa vontade toda de seguir em frente, incentivei-os para que levassem seus books para agências e produtoras, cheguei a indicar antigos clientes da época de publicitária. Para a nossa “não” surpresa, todas as respostam eram negativas!"
O Mercado e a agencia...
"Não havia oportunidades. Resolvi fazer uma pesquisa, muitas coisas foram encontradas na Europa, na Alemanha, o concurso de beleza A Mais bela cadeirante, que atualmente teve edições na Hungria. Na França e Inglaterra, reality show, estilo Big Brother, só com pessoas deficientes. Vi que realmente o que eles precisavam era de uma oportunidade de mostrar a capacidade.
Foi quando comecei a pesquisar em 2005, e perceber que, tudo era segmentado, não via inclusão, afinal incluir significa todos juntos, pessoas com e sem deficiência. Fiquei animada com os resultados na Europa e mostrei para eles tudo o que eu encontrava, mas as pessoas ainda falavam, estamos no Brasil e ninguém pensa assim, só você que sabe dos nossos sonhos e capacidade. Foi nesse momento que pensei... Se eles querem uma oportunidade, vou investir. Eu já tinha o meu estúdio aberto e resolvi dar-lhes essa oportunidade, incluindo-as nas minhas outras atividades. Me tornei assessora de cinco modelos com deficiência, cuidando da imagem e os oferecendo para o mercado de trabalho. Os primeiros resultados foram aparecendo, quando eles eram contratados para fazer recepção de eventos. E os modelos que estavam trabalhando comigo, falavam para outros deficientes, que entravam em contato comigo, nisso o casting foi ampliando e eu estudando as demais deficiências, fiquei cinco anos em contato direto com a deficiência física e antes de incluir as demais deficiências, fui pesquisar e conviver com pessoas com deficiência visual, intelectual. Comecei em 2007 com cinco modelos e agora temos 80 profissionais qualificados em território nacional para o mercado de trabalho publicitário e da moda.
Aqui na agência temos uma politica, que antes de falar o termo politicamente correto, que é pessoas com deficiência, chamamos as pessoas pelo nome, valorizando a questão humana.
A agência hoje? E os modelos?
Kika: Graças a Deus, os trabalhos da agência são diários. Cada dia pulamos obstáculos e estamos conquistando o respeito e reconhecimento do nosso trabalho. Sobre os modelos, temos 80 profissionais, em território nacional. Não gosto de responder por eles, então nada melhor que alguns tenham a palavra.
Caroline Marques
31 anos, paraplégica.
Estar numa cadeira de rodas não me impede de fazer nada, absolutamente nada. Não me sinto inferior por conta de uma ditadura da moda e cuido da minha aparência, pois trabalho com a minha imagem e tenho oportunidades de trabalhos como qualquer outra modelo dita “normal”, tanto nas fotos como nas passarelas.
Priscila Menucci
37 anos, atriz e modelo com nanismo.
Sou casada, mãe de dois filhos, dona de casa, e tenho o meu trabalho reconhecido, o público através do humor e pelo Rank Brasil como a menor atriz. Faço desfiles, mostrando que no auge dos meus 91cm, altura não é o essencial para passarelas. O que precisa é se ter atitude e postura profissional!
II PARTE
Paula Ferrari para o catálogo da estilista de moda inclusiva Candida Cirino
Qual a sua formação acadêmica?
Kica: Tenho graduação em comunicação social com ênfase em publicidade e propaganda.
Você chegou a estudar fotografia ou é autodidata?
Kica: Meu pai era fotógrafo amador, ficava encantada de estar ao lado dele ao invés de ficar fazendo pose juntamente com as minhas irmãs. Aprendi muitas coisas observando ele. Todos os dias eu aprendo algo novo, leio muito sobre fotografia, troco muitas informações com amigos fotógrafos, participo de muitos workshops, oras como ouvinte outras como palestrante. Toda essa introdução para falar que nunca abri mão de estudar sobre o assunto. Fiz cursos livres de fotografia e pós graduação na área.
O que te inspira?
Kica: O ser humano que tem vontade de evoluir. Viver é a melhor inspiração e saber que estou fazendo o bem para o próximo.
Como funciona este trabalho, você trabalha também para agencias como freelancer?
Kica: Dentro da minha agencia, as regras são as mesmas de uma que só trabalha com pessoas sem deficiência. E feito uma avaliação e teste de perfil profissional. O book eu faço, sem custo, para divulgação entre os clientes, que escolhem qual a modelo serve para a campanha. Quando o trabalho é conquistado por esforços da agencia, 20% fica como remuneração. Eu não faço nenhuma exigência de exclusividade. Alguns clientes por saber do meu trabalho além de contratar a modelo, contratam o meu serviço como fotográfa, pela experiência. Vale lembrar que sou uma agencia segmentada, só trabalho com profissionais com alguma deficiência. Muitas pessoas falam , que sou uma agencia inclusiva e não é. Para fazer inclusão é preciso ter todos, eu optei pela segmentação, porém, nos trabalhos, o foco é a inclusão. Quero que os modelos da agencia trabalhem com pessoas sem deficiência, nos anúncios e nas passarelas.
Faço alguns freelancer, para algumas agencias de modelos para pessoas sem deficiência, que só querem o meu trabalho fotográfico. Assim como modelos sem deficiência, procuram como prestadora de serviço para o book, nesse caso não entro como agenciadora.
Como é o resgate a autoestima de pessoas muitas vezes vitimadas pelo preconceito? Como funciona o trabalho, como ele acontece?
Kica: Muitas pessoas são vitimas do próprio preconceito e de pessoas próximas como familiares que preferem esconder, isolar a pessoa com deficiência, alguns por superproteção outros por vergonha mesmo. A pessoa primeiro precisa aceitar-se como é. A fotografia é apenas uma ferramenta para o resgate da autoestima, mas sozinha, não é eficaz! Ser retratada quando se esta feliz é a melhor maquiagem. Não adianta fotografar uma pessoa que não se aceita, o resultado vai ser negativo. A foto ela eterniza um momento, então se a pessoa não esta bem consigo mesmo, a foto vai mostrar isso. Quando a pessoa não se aceita, o primeiro passo e procurar uma ajuda de um psicólogo, tanto para a pessoa com deficiência, quando para família. Uma característica do meu trabalho é a ausência de manipulação de imagem. Eu retrato a pessoa como ela é claro, que procuro valorizar o melhor ângulo, tem a questão da maquiagem, sem exageros quando é book, maquiagem conceitual quando o cliente permite, o look que valoriza o físico de cada pessoa. Essas são as preocupações. Não adianta querer resgatar autoestima, usando de artifícios as ferramentas do photoshop, mostrar uma beleza que não existe, se a pessoa não esta bem com ela mesmo, primeiro ela precisa ver quais são os pontos e procurar ajuda especializada.
É difícil quebrar o gelo com os modelos iniciantes?
Kica: Hoje não. Quem quer seguir carreira, tem que seguir as regras do mercado, isso é fato. As pessoas com deficiência procuram ser tratadas de igual para igual, então sabem que tem que seguir regras. Cuidados com o físico, vaidade, atividades físicas, alimentação, horários, cursos... Quando a pessoa está no inicio de carreira, ela passa por orientação, por isso o teste e avaliação de perfil é importante para ver todos os pontos. Exemplo, pessoas que querem ser modelos e são tímidas, um curso de teatro pode ajuda-la a perder essa timidez, além de ser ótimo para expressão corporal. Saber fazer a maquiagem, para ir para um teste ou até mesmo para trabalhos como, recepção de eventos. Além de saber qual o tipo de roupa que fica melhor com o tipo físico. Estudar é importante, hoje com avanço da tecnologia as informações estão por toda parte, meios virtuais e publicações (mídia impressa, livros direcionadas para cada foco).
Você conhece a historia do estilista Alexander McQueen? Acredita que tenha sido importante? O mesmo já colocou modelos de uma só perna às passarelas. Você acredita que no Brasil temos potencial e personalidade suficiente para inclui-los também às passarelas?
Kica: Sim, conheço o trabalho do Alexander McQueen, que veio a falecer em 2010. Tudo que é feito para incluir a pessoa com deficiência, no mercado da moda, tem importância. Ele fez isso pela primeira vez em 1999, após M. Officer, que em 1997, usou o modelo Ranimiro Lotufo como garoto propaganda. No Brasil, com ação da M. Officer foi considerado sensacionalismo e dois anos depois quando Alexander colocou uma pessoa com deficiência física, amputação de membro inferior na passarela, ele recebeu aplausos. Temos tudo no Brasil, profissionais com deficiência, que podem estar numa passarela. O que precisa é brasileiro acreditar no potencial desses profissionais e deixar de lado os preconceitos internos, sem contar que não precisa vir exemplos lá de fora para colocar modelos com deficiência na passarela. Acho que se Alexander estivesse vivo, colocando mais deficientes para desfilar, com certeza o Brasil ia copiar mais uma vez o que vem de fora.
O que está faltando? Qual é o nosso problema?
Kica: Falta oportunidade, além da falta de respeito com o próximo. Temos no Brasil quase 46 milhões de consumidores com alguma deficiência. Eles precisam ser inseridos nas campanhas. Consumidores com deficiência, pagam as contas, trabalham, são chefes de família ... Falta acessibilidade, tanto arquitetônicas como em comunicação. Existem leis que garantem o direito de todos e elas muitas vezes são desrespeitadas, precisam de maior fiscalização. Os problemas são diversos, não é culpa de uma única pessoa. Todos têm a sua parcela de culpa. As pessoas que escondiam seus familiares com deficiência, a falta de informação e muitas vezes a falta de interesse da própria pessoa com deficiência em não querer mudar e aceitar passivamente os que os outros colocam como barreiras. Se eu, quando falei que ia montar agencia, tivesse escutado a maioria, que me chamaram de louca, que isso nunca ia dar certo, hoje eu não estaria aqui respondendo essa entrevista. Acreditei em cinco pessoas que estavam ali, falando que iam trabalhar comigo e acreditei ainda mais na minha capacidade de fazer acontecer. Quando estiver outras agencias, incluindo os profissionais com deficiência, quando a publicidade incluir a pessoa com deficiência, com naturalidade, os problemas acabarão.
Kica hoje é também proprietária de uma agencia de modelos no segmento. O agenciamento... Quais são os tipos de trabalhos oferecidos aos seus modelos? Existe já uma demanda para trabalhos de moda, sem que necessariamente esteja ligados a deficiência, ou ainda há relutância?
Kica: Na maioria são ligadas a moda ( roupas, acessórios, jóias). Editoriais segmentados mostrando a moda inclusiva, roupa adaptadas a cada tipo de deficiência, assim como temos os editoriais inclusivos, pessoas com e sem deficiência, no mesmo anúncio. Na passarela acontece a mesma coisa que os editoriais, eventos segmentados e inclusivos.
Tenho clientes como a estilista Candida Cirino, que esta apostando no nincho de moda inclusiva, além das roupas, ela também esta investindo em calçados. A marca Fator Brasil, com roupas para pessoas com nanismo.
Os percalços imagino, devam ser inúmeros, quais são os pontos mais complicados desta rotina?
Kica: Vivemos em uma sociedade de “São Tomé”, que só acreditam vendo. Muitas pessoas por não VEREM com freqüência acham que os profissionais com deficiência, sendo modelos são apenas uma questão passageira. Que esse é um assunto que já saiu de moda. Outros que acham que tudo tem que ser de graça, que eles não precisam receber cachê. Pré conceito de achar que tudo é “inho” até que é “bonitinho”, “tadinho”, “coitadinho”, vem cá que vou te fazer um “favorzinho”.
Como fazer o tabu virar totem? Existe um segredo? Ou seria preciso passar por um drama na família para que as pessoas começassem a se importar?
Kica “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Mudar as pessoas, não é uma tarefa fácil. É preciso dose de paciência. Além de provar todos os dias que é possível. Todo mundo tem que fazer a sua parte, não pode deixar para o outro essa tarefa, todos que tem o mesmo objetivo precisam estar unidos. Para as pessoas que já trabalham na área, mostrar a capacidade desses profissionais, isso fazemos com exposições fotográficas, campanhas de conscientização, levando a informação, com as matérias na mídia. Um caminho que percebemos aqui na agencia é o de levar a informação diretamente para os futuros profissionais, fazemos muitas palestras (universitários de comunicação, moda...), levando as informações diretamente para quem vai poder dar uma oportunidade amanhã. Não é preciso ter um caso na família. Somos todos iguais. Tudo é uma questão de ponto de vista. Por exemplo, se parar para analisar a criação do mundo, pela religião, as pessoas vão ver que o homem ficou deficiente para dar vida a um próximo e que essa nova vida se uniu para procriação... Na política, vamos ver que um homem deficiente já foi autoridade máxima por oito anos. Todos têm limitações, alguns menos que os outros. A pessoa com deficiência precisam de oportunidade de mostrar o seu potencial, em contra partida a pessoa com deficiência não pode estar no papel de “coitadinha” e nem de “super-herói”.
Como vai a agencia hoje? E os modelos?
Kica: Graças a Deus, os trabalhos da agência são diários. Cada dia pulamos obstáculos e estamos conquistando o respeito e reconhecimento do nosso trabalho. Sobre os modelos, temos 80 profissionais, em território nacional. Não gosto de responder por eles, então nada melhor que alguns tenham a palavra.
Márcia Gori
50 anos, seqüela de poliomielite.
Não me considero uma modelo. Acho-me bonita, mas não ao ponto de achar que sou uma referencia de beleza. Por ser militante da causa, por falar de direitos humanos, sexualidade da pessoa com deficiência, a minha imagem é muito forte para fazer as campanhas de conscientização. Fazemos muitas campanhas voltadas para sexualidade, o combate da violência doméstica e a prevenção da saúde como a campanha do câncer de mama. Fazer as fotos mexe com auto-estima, vendo os resultados só ressalta os cuidados que tenho com a minha aparência e a vontade de fazer novas tatuagens (riso).
Rayane Landim
20 anos, paralisia cerebral
Uma das melhores coisas em fazer parte do casting e se descobrir como “mulherão”. Também ver a preocupação com o nosso futuro. Além das orientações para seguir carreira de modelo, no meu caso modelo fotográfica, eu tenho que pensar no futuro, e estudar é um dos requisitos que fazem a pessoa ser do casting. Sou aluna do curso de direito, estou no segundo ano.
Diego Madeira
30 anos, mielomeningocele
Cuido do corpo e mente. Hoje estamos com ótimas experiências, participações de desfiles, editoriais e em diversas publicações. Muito bom ver o trabalho de igual para igual, estar em um editorial com modelos sem deficiência, isso é a verdadeira inclusão.
Onde podemos encontrar mais sobre sua agencia e trabalho?
Kica: Meu site està em reestruturação: site – www.kicadecastro.com.br
Mas as pessoas podem saber entrando em contato:
via e-mail: kicadecastro@gmail.com, celular da TIM (0xx11) 98131-0154 e pela rede social, facebook, Kica de Castro II

Foto: Priscila Menucci, atriz e modelo com nanismo para o catalogo Fator Brasil


Foto: Mah Mooni (Iraniana, possui uma amputação em membro inferior. No país de origem não existe muitas possibilidades para as mulheres falar sobre beleza e sensualidade, tão pouco, seguir uma carreira de modelo, e com a deficiência, o mercado é ainda mais restrito. Mooni sempre foi vaidosa e sempre buscou uma oportunidade para seguir em frente nos seus objetivos. Fez uma pesquisa na internet e encontrou o trabalho da fotógrafa Kica de Castro e após trocas de e-mails resolveu se mudar para o Brasil para fazer parte do casting da agência da mesma. Olha que ela já teve residência fixa na Austrália, mas suas pesquisas apontaram Kica como o melhor trabalho no segmento.
Na foto, Mooni esta com look desenvolvido pela estilista Candida Cirino, em homenagem ao centenário da artista plástica Tomie Ohtake.

Foto: Rayane Landim e Diego Madeira, portfólio de make para Francceska Jovito

Foto: Fashion MOB 2011, Caroline Marques desfilando para estilista de moda inclusiva Candida Cirino.

Foto: Renata Paiva, modelo de Rondônia para o catalogo fashion da estilista de moda inclusiva Candida Cirino, make é de Paulo Henrique

Foto: Marcia Gori e a Serpente Thot Kenj, para ilustração de editorial de sexualidade da pessoa com deficiência
"Feche os olhos, sinta a respiração e deixe a tentação percorrer a pele... A sensualidade de uma mulher não esta na beleza do que se dita, mas no que ela permite ser tocado." - frase Marcia Gori

Foto: Priscila Menucci 37 anos, atriz e modelo com nanismo.

Diego Madeira, modelo com deficiência e Francceska Jovito, modelo e make sem deficiência.
ENCICLOPÉDIA DA MODA